Alguns misturam as queixas com profundas revoltas e até atitudes
agressivas com a vida ou mesmo a Criação. A dor de cada um é muito
grande. O sentimento de inadequação, baixa auto-estima e desespero,
acompanham a solidão e transbordam em formas de atitudes, palavras,
posturas e queixumes.
Estava há dias a ler um artigo sobre este tema que me fez pensar como
actualmente muitas pessoas reclamam em estar sós: "O que há de errado
comigo que não arrumo companhia? Estou procurando há tempos alguém
íntegro, de carácter, honesto e verdadeiro e veja só o que me aparece...
um pior do que o outro!", reclamam os solitários.
Noto que, paralelamente a este fato, outras pessoas nunca se sentem
sós. Estão sempre acompanhados; têm grande poder de atracção; acabam uma
relação e, no máximo em uma semana, estão com outra pessoa, nem que seja
apenas sexualmente, mas, sozinhos, nunca.
Quando entro em contacto com a dor que a solidão me traz é onde posso
dar o primeiro passo a cura da mesma. Certamente, todos nós, em algum
momento de nossas vidas, já nos sentimos solitários, com esta sensação
de falta e é provável que tenhamos chorado sentindo falta de alguém ou
de um amor que se foi. Isso é normal, somos humanos, mas, neste momento,
me refiro "aos solitários de carteirinha", aqueles(as) que passam parte
de suas vidas em amarguras, sofrimentos, tristezas, melancolias e
profundas dores emocionais. Elegeram a solidão como justificativa para
sua vida não andar ou não estabelecer vínculo com outras pessoas, ficam
presos a determinados arquivos emocionais, e têm, nessa vida, uma óptima
oportunidade de cura se assim o desejarem.
De facto, os seres humanos não nasceram para viverem sós. Nós somos
seres gregários, precisamos da companhia, do carinho, da protecção, da
amizade, do compartilhar. É na troca dentro das relações ou papéis que
representamos, que desenvolvemos competência para interagir com cada um
deles, pois na vida humana o que nos diferencia dos nossos irmãos
animais são os processos de aprendizado estabelecidos na relação com seu
semelhante. O pior tipo de solidão é aquela que mesmo em companhia de
pessoas queridas, sentimos o vazio, a falta de alguém ou algo.
Assim, todos os solitários que sofrem por este motivo, estão
cometendo um enorme equívoco: "não olhar sua relação consigo mesmos".
Estão buscando fora, aquilo que deveriam buscar dentro. A experiência
humana nos dá oportunidade, através do apoio do outro, de me reconhecer,
aprender a ficar comigo, me acolher, me aceitar, me amar, me curtir, e
ter uma qualidade de vida interior mais saudável, para me relacionar
depois de ter superado as necessidade primitivas do meu nascimento e
desenvolvimento, quando for um adulto que consegue assumir sua vida e
sua caminhada. Solidão nada mais é que sentir falta de mim mesmo. Quem
assume ficar consigo pode até sentir falta de outra pessoa, mas alcança
qualidade de vida à medida que se aceita, para depois entrar numa
relação afectiva pronto para trocar.
Solitários de plantão, permitam-me um dica amorosa: a solidão não
existe, ela é o abandono que pratico comigo mesmo. Eu tenho em mim a
dose de amor correta de tudo aquilo que necessito e se me der este amor,
se entender que sou eu que curo as minhas relações e não a presença do
outro, de quem ainda me mantenho dependente, em pouco tempo poderei
estar inteiro para viver uma gostosa relação de amor com meu próximo.
Por: Camila Oliveira, in Obvious
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