A noite é como um olhar longo e claro de mulher.
Sinto-me só.
Em todas as coisas que me rodeiam
Há um desconhecimento completo da minha infelicidade.
A noite alta me espia pela janela
E eu, desamparado de tudo, desamparado de mim próprio
Olho as coisas em torno
Com um desconhecimento completo das coisas que me rodeiam.
Vago em mim mesmo, sozinho, perdido
Tudo é deserto, minha alma é vazia
E tem o silêncio grave dos templos abandonados.
Eu espio a noite pela janela
Ela tem a quietação maravilhosa do êxtase.
Mas os gatos em baixo me acordam gritando luxurias
E eu penso que amanhã...
Mas a gata vê na rua um gato preto e grande
E foge do gato cinzento.
Eu espio a noite maravilhosa
Estranha como um olhar de carne.
Vejo na grade o gato cinzento olhando os amores da gata e do gato preto
Perco-me por momentos em antigas aventuras
E volto à alma vazia e silenciosa que não acorda mais
Nem à noite clara e longa como um olhar de mulher
Nem aos gritos luxuriosos dos gatos se amando na rua.
Vinícius de Moraes
Sem palavras, caro amigo!... bem-haja por me dar a conhecer este seu 'universo' tão rico de alma e sentimento!... com tanta emoção contida, quer na música, quer em todos estes "guardados da alma"... confesso que me é um pouco difícil descobrir o 'ser racional' que se encontra para lá deste espelho...mas como a emoção me toca mais que a razão!... e como os ‘valores’ contidos nesta página que amavelmente me dá a conhecer são, para mim, razões maiores para ainda poder e dever continuar a acreditar no ser-humano!... apenas lhe posso deixar um grato bem-haja por tão prazerosa partilha… forte abraço para si, Fernando…
ResponderEliminarDo sempre amigo António J. de Oliveira